quinta-feira, 9 de março de 2017

Análise A Desejada das Gentes


Todo o enredo do conto constrói-se em formato de diálogo, em que o personagem Conselheiro conta a seu companheiro o que aconteceu entre ele e a tão desejada Quintilia, uma antiga amiga que morreu em 1859.
Analisando a personagem em questão, é importante destacar que o ponto de vista sob o qual observamos, é o do Conselheiro. Apesar de suas falas referirem-se à pessoa de Quintília, ela ainda constitui o segundo plano, pois o que fica percebido é o sentimento do protagonista em relação à ela. Todas as características que podemos ressaltar de Quintília, é fruto da percepção do Conselheiro e de seu amor por ela.
Quintília é uma mulher mais velha que a maioria das mulheres solteiras da época, já com trinta anos quando conheceu o Conselheiro, parecia ser mais nova. A figura pode ser notada como alguém que atraía vários olhares dos homens, entretanto, não mantinha relacionamento com nenhum. Machado de Assis ressalta características interessantes do comportamento dos rapazes em relação à moça. Ele narra um episódio em que vários deles conversavam sobre Quintília, e várias histórias surgiram. Alguns impressionavam-se ante o fato de não poderem tê-la como queriam, outros gabavam-se de tê-la conseguido, e ninguém poderia dizer qual deles falava a verdade. O que fica claro em todo conto, é o desejo de todos por ela, justificando o título da obra.
As características físicas de Quintília demonstram-se essenciais para a posição de desejada que ocupa, nota-se que o fascínio dos outros por ela, se dá por este motivo. Machado, através de seu narrador Conselheiro, releva a questão dos bens que a moça possui. Quintilia torna-se uma figura de cobiça, pois além da boa aparência, possuía bens que interessavam a todos.
A figura feminina, neste conto, é abordada de maneira ideal. Apesar de o protagonista ser o único que consegue estabelecer um relacionamento mais íntimo com Quintilia, há um distanciamento entre os dois, que se caracteriza na não correspondência dos sentimentos amorosos dele, por parte dela. A decisão de Quintilia de não render-se ao casamento, contribui para que ela tenha uma imagem de independência e insubordinação, pois, mesmo depois do falecimento de seu tio, ela permaneceu decidida.
O Conselheiro atribui a ela certa profundidade metafisica, pois a diviniza, buscando uma filosofia que possa compreender suas ações. Quintilia mostra-se desprendida de seus sentimentos íntimos pelo Conselheiro, pois, mesmo depois de se comprometer a um eventual casamento, ele não acontece até o último momento. O palpite do Conselheiro, seu suposto viúvo, é que Quintilia só o fez porque já estava certa de que a morte chegaria depressa.
Quintilia é a representação da mulher como objeto de desejo, figura de amor inalcançável que se desconstrói à medida que a narração progride.
A última frase do conto expressa a impressão deixada por esta personagem:
“Chame-lhe monstro, se quer, mas acrescente divino.”


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